Apesar de se espraiar por mais de 700 páginas, o livro “O Prémio”, de Irving Wallace, lê-se muito bem. Trata-se de um romance americano escrito em 1961 que se debruça sobre a entrega dos conhecidos e famosos prémios Nobel. O livro começa por descrever com minúcia o ambiente familiar e profissional que envolve as personagens laureadas pelo Prémio naquele ano – que julgamos, por dados fornecidos ao longo do texto, ser os inícios da década de 60 - e só depois a acção se desloca para a capital sueca, Estocolmo, onde essa entrega terá lugar.
Nas primeiras 200 páginas sensivelmente, ficamos a conhecer a vida pessoal e profissional das personagens agraciadas com o Prémio, as suas qualidades e defeitos, as suas vicissitudes pessoais.
Já em Estocolmo, a intriga adensa-se com alguns incidentes que ocorrem durante as iniciativas do programa da “semana do Nobel”. Ficamos a saber da subjectividade e do relativismo no momento de escolher os laureados em anos anteriores e o autor, ao mesmo tempo que analisa esse aspecto, também reabilita a Instituição Nobel, apontando casos positivos.
A cidade e os seus habitantes são caracterizados e alguns preconceitos e estereótipos – ligados ao campo da sexualidade - são desmascarados e postos por vezes em contraste com o que se faz nos Estados Unidos à época.
Ficamos a saber que o marido do casal francês (os Marceau) que ganha o Prémio Nobel da Física trai a mulher devido ao tédio que sente pela vida que leva. Ela vingar-se-á em Estocolmo.
O cientista Stratman, de origem alemã, mas que vive nos Estados Unidos ganha o prémio da Química vive preocupado com a sua frágil saúde e sobretudo com a sobrinha, que sobreviveu aos horrores do regime nazi.
O Dr. John Garrett e o Dr. Carlo Farelli, italiano, ganham em ex-aequo o prémio Nobel da Medicina e o Estocolmo será o palco onde o primeiro deles se irá digladiar com os seus problemas psicológicos e com Carlo Farelli, alegando que este lhe roubara a descoberta que haveria de dar o Prémio aos dois laureados.
O Dr. Craig ganha o Prémio Nobel da Literatura, mas não escreve há 3 anos nada de novo. Isso deve-se ao facto de ele viver com o trauma de ter morto a mulher num acidente de automóvel e de se ter entregue desde então à ingestão indiscriminada de álcool. Vive com a irmã da falecida mulher e é com ela que se desloca a Estocolmo para receber o galardão. É lá e na figura de Emily Stratman, a sobrinha de Max Stratman, que ele encontrará o rumo e o significado para a vida.
A “intriga comunista” - que envolve a sobrinha do cientista Max Stratman e o seu desaparecido pai, Walther Stratman, irmão de Max - serve para dar vazão às perspectivas do autor sobre os regimes que se confrontam na altura da guerra fria. O bloco comunista é confrontado com o mundo ocidental, livre e esta temática surge ainda num dos livros que o laureado com o Prémio da Literatura escreve.
A narrativa ganha progressivamente interesse, tornando-se cada vez mais vertiginosa à medida que se aproxima do final. Há estratégias narrativas adoptadas que são inteligentes e que contribuem para o adensar da intriga. No entanto, a partir de dado momento certos elementos da história tornam-se previsíveis, pois o leitor começa a perceber a mentalidade do escritor e que subjaz à tessitura da narrativa.
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
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5 comentários:
Crítica muito bem escrita!
Apesar de não me sentir atraida para a leitura deste livro, o modo como está escrito o seu texto, levou-me a ler o mesmo até ao fim. Parabéns!
Descobri o Irving Wallace no livro o Sétimo Segredo e desde então nunca mais parei de ler os livros do autor. Descobri alguns em alfarrabistas porque já não havia edições recentes e a procura pelos livros dele começou a ser cada vez mais interessante, até pelo facto de serem raros. Aconselho a leitura de O Homem, muito actual, porque fala do primeiro presidente negro nos EUA.
O escritor trata as mulheres como nunca ninguem o fez,elas tem sido grande momento de inspiracao para o autor,qundo li o homem nao esperava tanta participacao das mulheres,de forma fluente no livro.
nao queria por anonimo quando falei da grande inspiracao nas mulheres que o escritor possui.
Concordo completamente com a Maria! Eu conheci Irving a partir de "Os Sete Minutos" e não parei mais!! Hoje conto com duas prateleiras na estante só pra suas obras. A caça aos livros também ajuda a manter a audiência, como citou a colega acima!!
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